Na história, quando uma civilização adentrava em um ciclo de decadência, iniciativas surgiram para, sê não restaura-lá ao menos preservar o legado alcançado.

Hoje nos deparamos com grande avanço tecnológico e científico, mas o homem moderno encontra-se em uma profunda crise existencial!

A sociedade, como que caminha para o caos a espera de novos modelos salvíficos. Os sinais desta confusão estão por todas as partes, de modo que, toda pessoa intelectualmente sincera constata que há modelos que, na forma como estão, não atendem (se é que algum dia atenderam) mais as aspirações humanas.

No campo da educação, as escolas e Universidades não atendem mais aos critérios mínimos para a formação integral do homem, seja porque tais critérios se deformaram, seja porque simplesmente a lógica de mercado os engoliu e o ensino foi totalmente desvirtuado de modo que pouco ou nada atende a sociedade.  As pessoas são entorpecidas com uma gama de informação desconexa e superficial acrescido de tecnologias que apontam para um mundo cada vez mais artificial e desumano gerando casos cada vez maiores de depressão, suicídios e pessoas superficiais, dado a idéia utilitarista e do descarte.

A escola, esta Instituição que desde o século XIX recebe os homens em formação, compulsoriamente ou não, parece não mais atender as aspirações originais, em muitos aspectos, carece de credibilidade e potencialidade, pois até ela está perdida no contexto digital e da inteligência artificial.

Não raro, cada vez mais, são observados grandes escândalos ocorridos dentro de escolas; os professores, salvo exceções, já não servem de referência ou bom exemplo; A fonte pedagógica está contaminada em sua essência; cada vez mais se troca os clássicos por obras progressistas, com forte apelo sexual/ou de minorias, com uma moralidade cada vez mais questionável; os ídolos da Grécia e do Cristianismo/Judaísmo, são intencionalmente esquecidos; os contos e fábulas reescritos; os grandes escritores da história relegados ao esquecimento e os poucos alunos que ousam busca-los são rotulados de “intelectuais”, “intelectulóides”, “nerds”, etc.

Uns dizem que a Escola “educa”! Outros, que a Escola “ensina”! Mas a realidade que se apresenta denota que ela: “nada educa e pouco ensina, ou ensina muito mau”.

A escola culpa o governo, e em outros momentos os estudantes, numa ausência profunda de autocrítica, tão necessária. Muitos dos professores já não desejam ir trabalhar; não querem encontrar os alunos e sentem fobia destes; Muitos são aqueles que estão em tratamento psiquiátrico, psicológico e/ou foram afastados do trabalho por problemas de estresse e depressão[1], enquanto que muitos dos bons professores, cada vez mais possuem enormes dificuldades para passar conhecimento e valores aos seus alunos.

Alguns dos motivos, já identificados facilmente até em trabalhos acadêmicos são: a falta de disciplina dos alunos; a falta de apoio dos diretores e secretarias de educação; o acúmulo de atividades além classe; local de trabalho inadequados e insalubres; inclusão de crianças “especiais” com o restante dos alunos que não são especiais; agressividade dos alunos (violência, ameaças); e a violência externa que adentra a Escola.

Mesmo em cidades onde os professores possuem bons salários, a impressão é que muitos deles continuam na profissão totalmente desmotivados. Buscam especializações de baixo custo e de pouca excelência apenas para ganhar um bônus salarial, mas sem qualquer interesse genuíno em seu crescimento e amadurecimento intelectual, muito menos no aprimoramento da aula.

Esta realidade se impõe e brota das conversas particulares com os professores, da oitiva de alunos, da observação descontraída dos adolescentes, das matérias postas na mídia, do comportamento doméstico, enfim, de um simples olhar ao entorno da escola e dos alunos.

É fácil constatar, no geral, que os frutos desta “educação” posta, das modernas técnicas e teorias educacionais aplicadas, dos professores “especialistas”, diplomados e pós-diplomados, são: jovens que mal sabem ler e, se leem não sabem interpretar ou entender o que leram[2], ensino deturpado ideologicamente; omissão de conceitos e realidades essenciais; falta de incentivo ao desenvolvimento; Indisciplina generalizada; jovens sem boas referencias, perdidos e buscando cada vez mais o individualismo, o ostracismo, a troca de uma vida real por uma convivência virtual, em contradição direta a socialização tão defendida e alardeada por aqueles que defendem a escola; professores acuados, cansados e mau preparados até para dar as matérias nas quais são diplomados[3]; alunos desmotivados e professores desprestigiados; jovens com comportamentos imorais e sexualizados ao extremo[4], etc.

E não se pode dizer que há pouco investimento em educação, mas certamente uma ineficiência de distribuição e aplicação.

Diante de tal cenário, os pais mais atentos voltam-se as origens e as primícias da verdadeira educação. Voltam-se àquela Instituição que criou as primeiras escolas e que traçou as primeiras regras de uma verdadeira formação; buscam ouvir aquela que é mestra e mãe dos educadores, de cujo seio fez brotar tão prestigiosos intelectuais: a Igreja, a Grécia antiga e os filósofos Romanos.

Embebidos desta cultura e convencidos de sua obrigação primordial que é a educação dos filhos, os pais tomaram a iniciativa ainda tímida, é verdade, mais crescente e pulsante, de aprimorar a Educação e não mais depender daquela ministrada e monopolizada pelo Estado e pela Instituição privada[5]. Resolveram pensar, fazer, planejar um plano diferente e com eficácia garantida para que seus filhos não entrem nas estatísticas de decadência atuais, nem sejam formados por esta socialização que aí está posta. Referidos pais, voltaram a apostar na antiga e eficaz educação domiciliar com vista a ensinar nos moldes de uma dedicação exclusiva e inclusiva, integral e profunda, sobre as premissas da fé, das fontes primárias da literatura, da contemplação do “belo” e na promoção das virtudes.

Não se trata de famílias especiais, senão que assim se tornam devido ao seu aguerrido ímpeto: de esforço além das exigências cotidianas; de buscarem objetivos mais elevados; de renunciarem ao comodismo e a fácil aceitação do status quo social e até de um conforto familiar mais opulento, saindo da competição de bens e aparências; uma vez que assumiram uma educação de qualidade e com foco em resultado: moral, espiritual e intelectual.

A educação domiciliar, infelizmente, não é para todos! Precisa de desprendimento pessoal, muita dedicação de tempo e atenção para conectar a vida com o ensinamento dado. Pelo menos um dos pais precisa se dedicar à educação do filho(a) e, para tanto, necessita aprender e criar técnicas e procedimentos pedagógicos (e para isso há tanta ajuda, basta procurar).

Não necessariamente o pai ou a mãe terão que deixar de trabalhar fora, mas será necessário moldar o trabalho e os horários a esta nova realidade.

A casa vira uma escola, ambientes são criados e transformados; um pacto é assumido pelo casal, de se aprimorarem como pessoa e se aproximarem como casal, pois o exemplo faz parte da educação. Há exigências pessoais, financeiras e estruturais que nem sempre permite que mais casais desenvolvam a educação domiciliar, porém ela é acessível a todos que verdadeiramente “queiram”, seja qual for a sua condição social e financeira.

Não é a toa que a cada dia mais casais se voltam à prática da educação domiciliar de forma integral ou não. Segundo a ANED[6], só no Brasil, o crescimento foi de cerca de 2000% na última década[7].

Com ajuda da ANED e de Associações Estaduais, famílias em todo o país se reúnem, ajudam-se mutuamente: ensinam e aprendem. Seus filhos se relacionam, frequentam cursos extracurriculares e atividades como música, teatro, dança e esporte. Tanto por opção dos alunos, mas também e especialmente pelo estímulo familiar dos pais que vislumbram uma formação mais abrangente e dinâmica. Sim, os pais estimulam, participam, vivem e respiram junto com o aluno/filho a educação.

Além de edificar os filhos/alunos, a educação domiciliar incrementa a economia, fomentando maior compra de livros e material didático, fortalece a atividade do professor que é contratado como tutor em matéria específica e desenvolve uma economia solidária, pois muitos pais educadores com formação educacional fornecem cursos de formação aos demais pais educadores.

A educação domiciliar não é um problema, não é um rival, não confronta a Escola ou o sistema. A educação domiciliar apenas é uma via, que caminha ao lado e que busca o mesmo objetivo: a edificação do ser humano, a sua preparação para o trabalho, para uma convivência pacífica e elevada.

Apoiemos a Educação Domiciliar!

[1] https://www.scielo.br/j/cp/a/vcjCwDsk6mp6b8KvvkC7fpk/?lang=pt ; https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/20/36/o-adoecimento-do-professor-da-educacao-basica-no-brasil-apontamentos-da-ultima-decada-de-pesquisas ;

[2] INEP, Saeb 2017 revela que apenas 1,6% dos estudantes brasileiros do Ensino Médio demonstraram níveis de aprendizagem considerados adequados em língua portuguesa, o que não é diferente, ou seja, há níveis baixos em português, matemática e humanas também nos Exames mais recentes, podendo ser verificado no sitio: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/saeb/resultados

[3] https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/02/alunos-enfrentam-falta-de-preparo-de-professores-em-sala-de-aula.html ; e, https://www.gazetadopovo.com.br/ler-e-pensar/por-que-certos-professores-tem-dificuldades-para-mudar-suas-praticas-de-ensino/

[4] https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/10/11/precisamos-falar-nas-escolas-do-risco-de-sexualizacao-precoce-e-violenta-de-adolescentes.ghtml ; também: https://www.camara.leg.br/noticias/550681-projeto-preve-que-escolas-publicas-adotem-medidas-contra-erotizacao-precoce/

[5] Há quem diga que os pais poderiam ajudar a escola a ensinar. Mais quantos relatos há de professores e agentes que não divulgam aos pais, mesmo quando estes solicitam os planos de ensino, a metodologia ? Quantas associações de pais que tem regrado sua atuação? Quantos dirigentes que se incomodam por adotar outros livros ou retirar certas ideologias do contexto pedagógico? Só quem presta atenção e ouve os pais, nos diversos canais e nas diversas conversas do dia a dia, percebe que a participação dos pais na escola é desmotivada e limitada. Porém, quero crer que há exceções, boas iniciativas e realidades diferentes numa realidade tão imensa quanto o território de nosso país.

[6] ANED: Associação nacional de educadores Domiciliares.

[7] Informação citada no livro escrito por Zamboni, Fausto. A Opção pelo Homeschooling – Guia fácil para entender por que a Educação Domiciliar se tornou uma necessidade urgente em nossa Época, fl. 40, 1º ed. Julho 2020, CEDET.